A Fachada

Cena 2010, Ato 12.1 (02.12.2010)
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"- Esse lugar tem me mudado muito, Luiselza. Cheguei aqui e não sabia cortar uma laranja, pois vivia numa redominha de vidro. Esse lugar está me deixando com o coração duro, muito duro. Antes eu achava que tinha que cuidar de todo mundo, da mesma maneira; hoje acredito que existem pessoas que deviam morar do lixo.
- Logo, logo você sairá daqui, querida. Essa é uma realidade que choca bastante todos quanto não a buscam, de uma ou outra maneira. Estou aqui porque quis, mas sei que não é fácil. Também mudei bastante; creio-me bem mais forte.
- Mais forte também estou, mas estou seca, irrito-me quando entro aqui, as horas não passam. Parece que tudo aqui é inútil, nossos esforços não servem para nada...
- Inútil não; fachada. E servimos sim, mas não como quereríamos e poderíamos.
- Você veio, conscientemente, para uma fachada?
- Não era para ser assim, se isto aqui fosse levado a sério por todos."
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Cena 2010, Ato 12.2 (04.12.2010)
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- Não chore d. Isabel.
- Mas eu quero ajudar...
- A senhora quer ajudar, mas a senhora não pode ajudar da maneira que deseja.
- Estou decepcionada demais.
- Não se decepcione. Se quer ajudar mesmo, vá à oncologia pediátria do Hospital Oswaldo Cruz e procure procure aqueles pacientes terminais ou os da quimioterapia.
- Eu conheço aquilo ali...
- Pois bem. Chegue lá e converse com eles, não como eles pessoas que vão morrer amanhã, mas como se saissem dali curados. Muitos não possuem família e estão completamente largados. Vá lá, sorria, se alegre e não chore na frente de quem está apenas com vontade de chorar, pois todas as forças já foram embora.
- Você tem razão. Aqui estou é perdendo tempo..."
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Cena 2010, Ato 12.3 (06.12.2010)
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- Por que estão tirando os lençóis novos? Eles estão tão cheirosinhos...
- Era somente para aparecer nas fotos da festa de inauguração."