Eu e Minha Ex-Primeira Imagem e Ex-Máximo Padrão de Pureza

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ATO 2010, CENA 01.
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- Oi.
- Boa tarde, Lígia.
- Boa. Tudo bem?
- Tudo bem, graças a Deus. E por aí?
- Também. "K" disse que falou com você ontem e que você tava diferente.
- É verdade. Fui educada, como sempre; falei pouco, como, às vezes, falo; e, pela primeira vez na minha vida, fui fria. "T K" era minha primeira imagem e padrão de pureza. Desde que aprendi a falar, pedia a benção dela, ao chegar e ao sair. E até algum tempo atrás, inclusive pelo msn. Não tenho mais razões para isto e, não fosse o respeito que tenho à Vó Elza, à memória de meu pai, ao marido dela e a você, ela já estaria excluída do meu e-mail, msn e Orkut. Não tenho raiva e não tenho amor. Não tenho nada além de uma prudência biológica e constrangedora.
- Ela sabe disso?
- Com certeza. Mal consegui manter 10 minutos de conversa. Trabalho num meio que não é fácil, mas nunca ninguém tentou me apunhalar, fosse pela frente ou pelas costas. Não há segredo e todos sabem. Ela é que errou, triplamente: primeiro, me achando bobinha; segundo, tentando me apunhalar; terceiro, por me achar bobinha, tentando me apunhalar com uma penugem.
- Vocês conversaram o quê?
- Só de Carolina, que vai começar o 3° ano do ensino médio, aos 16 anos e 2 meses. Ela me parabenizou, porque Carolina passou e está adiantada e saí do msn.
- Você ainda vai em Campina Grande?
- Só se for por um concurso ou algum trabalho. Até contando piadas sou uma pessoa séria e uma das coisas que mais prezo é a minha reputação de responsabilidade. Não desejo aproximação, além do que a educação me permita.
- Ela disse que está muito envergonhada e arrependida.
- Não precisa. Deixa um longo tempo passar... Talvez a lembrança do susto vá embora. No fundo ela é apenas uma criança muito sofrida.
- Sinto muito.
- Não precisa. Tenho um anjo da guarda muito forte e Deus me protege sempre.
- É verdade.