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Cena 2010, Ato 09. (30.09.2010)

"- Como você está?
- Extremamente feliz e infinitamente limitada.
- ?
- Ou Teresina, tão Filosofia e paz... Ou São Paulo ou Rio, tão caos e cultura. Paços assim...
- E Recife?
- Faz parte da minha história, mas não mais da minha vida. Viver é mais importante do que meramente me historiar. Sou feliz nesta limitação temporária...
- Você está com frio?
- Não.
- Está com medo?
- Não.
- Apenas ali?
- Talvez... Talvez algum litoral pacato e confortável. Tenho que terminar o que nunca ninguém lerá.
- Vou perguntar de novo... Você está com medo?
- Não!
- Como você não tem medo se a sua coluna vertebral foi quebrada pela sua própria coluna vertebral?
- Quem disse isso?
- Você mesma. Esqueceu?
- Sou maior do que meus ossinhos. Não vou me curvar às soluções de continuidade que não me pertencem.
- Mas a fome lhe acompanhou desde que você nasceu...
- Teresina foi meu divisor de águas. Saí de lá com um olhar bastante diferente.
- Seu nome continua o mesmo...
- Estou sendo muito pressionada, sempre pelo mesmo motivo e não preciso de mais pressão.
- Tem certeza?
- Não. Dá para virar esta moeda?
- Sinto você pensando em Teresina.
- Quando eu morava lá, viajava direto. Estou trancafiada aqui; todos os lugares me são conhecidos e somente não me falam a mesma coisa porque eu mudei. Mudei mais que PE...
- Está com medo, Luiselza de Souza Pinto?
- Por que eu teria medo? De que eu teria medo?
- Da lucidez. Você está deixando a lucidez lhe dominar completamente.
- Isto não é crime, é?
- Nunca mais falaram mal de você, nunca mais fofocaram de você, nunca mais ficaram chocados com você, nunca mais você atentou contra a moral e os "bons costumes"... Claro que o motivo do falatório continuará (Continuaria...) sendo a intensidade chocante com que você mergulha no que acredita e ama. Você está ficando bem tediosamente não falada.
- Por céus! Jamais mandei alguém tomar nas duas letras, mas posso abrir uma exceção para você: "VÁ TOMAR NAS DUAS LETRAS!".
- Ei... Eu sou você.
- Se sou eu, por que você não se cala?
- Estou com fome e você não está me alimentando. Seu lado lúcido está feliz e o outro está limitado...
- A lucidez extrema não seria uma forma de loucura? Não estaria eu assim lhe alimentando?
- Vou morrrer de fome? Recuso-me. Protesto. Olha a hora!
- Ali é muito duro.
- Você não é a melhor expressão da maciez, embora extremamente sensível... Está com medo?
- Não... Mas aquela loucura precisa de uma estrutura que não tenho.
- Você prefere o caminho comum, então?
- Eu não disse isso...
- Você foi longe demais; não há tempo para se retrair, para se calar, para tremer.
- As pessoas ali são tão fortes...
- Você sempre foi 51% loucura e 49% lucidez. Não tente mudar isso agora. Melhor ser e estar entre os fortes. Não se prepare para o sorriso da mediocridade. Basta aquela palavra e nos casamos de novo... E para sempre."
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"Parece loucura conversar sozinho, mas loucura mesmo é a ausência de autodiálogo." (Augusto Cury)